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Impactos dos eventos climáticos no Brasil

Publicada por Thalyta Araújo em 28/06/2024
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Impactos dos eventos climáticos no Brasil 

Em 2023, o território do Brasil ficou um pouco mais seco. Em todos os meses do ano, principalmente a temporada de chuvas, a superfície de água reduziu, aponta levantamento divulgado na quarta-feira (26) pela organização não governamental MapBiomas, uma rede que envolve universidades, ONGs e empresas de tecnologia, que realizam estudos para monitorar mudanças na cobertura e no uso da terra.

A perda registrada no ano passado foi de 3% em comparação com 2022. É como se a água esparramada sobre 5.700 km² tivesse evaporado, o equivalente a cinco vezes a cidade de São Paulo. Desde 1985, início do período analisado pelo Mapbiomas, a tendência observadas no país é de declínio. Especificamente em 2023, a redução foi de 1,5% em relação à média histórica. Atualmente, a água cobre 183.000 km² do território brasileiro, o que corresponde a 2% total.

"A tendência geral é de perda de água, a explicação para esse cenário é complexa e se deve a vários fatores como mudança nos padrões de precipitação, aumento de temperatura, verões mais quentes e mais longos, mudanças no uso do solo", afirma à DW Juliano Schirmbeck, coordenador técnico do Mapbiomas Água.


Extremo de Norte a Sul

O impacto dos eventos climáticos extremos de 2023 é um dos destaques preocupantes da coleção de dados. A Amazônia, por exemplo, iniciou aquele ano com superfície de água acima da média histórica e meses depois, o bioma enfrentou uma seca sem precedentes. O rio Negro registrou o menor índice desde que seu nível começou a ser acompanhado, há 100 anos.

O Pampa, do lado oposto do Brasil, iniciou os primeiros quatro meses de 2023 na fase mais seca de sua série histórica. Em setembro, chuvas intensas começaram a ocorrer no Sul e provocaram inundações, deixando milhares de desabrigados e dezenas de mortos.

“A chuva caiu inclusive em cidade que estão dentro do bioma Mata Atlântica, mas a água escorreu para o Pampa e fez com que aumentasse a disponibilidade”, detalha Schirmbeck.

A era dos extremos impulsionados pelas mudanças climáticas, analisa o pesquisador, se mostrou com bastante clareza no ano passado. “Há anos escutamos dos cientistas que as mudanças climáticas provocariam eventos extremos mais graves e com maior frequência. Isso foi visto nos extremos geográficos do Brasil”, comenta o coordenador da série do Mapbiomas.

A crise no Pantanal

Proporcionalmente, o Pantanal foi o bioma que mais secou desde 1985. Em 2023, a superfície de água anual registrada ficou em 3.820 km², o que apresentando uma redução de 61% em relação à média histórica. Além da diminuição da área alagada, o tempo em que este terreno fica submerso também caiu.

“O Pantanal é uma das maiores áreas úmidas do mundo e está sob preocupação especial. A superfície de água anual, que permanece pelo menos seis meses, caiu drasticamente, é a maior redução desde 1985”, pontual Schirmbeck.

Há quatro décadas, o Pantanal contava com mais de 65% de vegetação nativa em seu entorno. Atualmente, não passa de 40%. Muitos desses pontos concentram nascentes, que ajudam a inundar o terreno, exatamente por onde avança a fronteira agrícola.

Com o bioma mais seco, a temporada de incêndios começou precocemente neste ano (2024) colocando à prova a sua resiliência. Nas duas primeiras semanas de junho, o número de focos de calor são quase 700% maior que o mesmo período de 2020, o ano da pior crise do fogo até então. Grande parte dos focos se concentra no município de Corumbá, Mato Grosso do Sul, onde também foi registrada, em 2023, a maior perda de superfície de água proporcional, com redução de 53% em comparação com a média histórica.

Crescimento fabricado

Já a superfície de água na Mata Atlântica cresceu, ficando 3% acima da média histórica. Diversas localidades no bioma registraram altos níveis de precipitação com inundações em áreas agrícolas e deslizamento.

No Cerrado e na Caatinga, a disponibilidade superficial da água também aumentou. Isso pode ser explicado pela criação de reservatórios e hidrelétricas ao longo do tempo. Atualmente, 23% de toda água disponível no país se concentra em áreas construídas de armazenamento, sendo a maioria na Mata Atlântica.

Por outro lado, a situação se difere, quando se analisam os corpos hídricos naturais: sua superfície reduziu 30,8% em 2023 em relação a 1985. Metade das bacias hidrográficas do país estavam abaixo da média no ano passado.

“No país, o ambiente natural está secando. O ganho de superfície é no ambiente antrópico, construído pelo homem. Isso vai na contramão das soluções associadas às águas recomendadas num Clima em mudança”, afirma Schirmbeck, referindo-se a soluções baseadas na natureza como cidades, esponjas e preservação de áreas úmidas.

Essas estratégias permitem o armazenamento de água da chuva no solo que, aos poucos, escorre para os rios. Elas auxiliam na prevenção de enchentes nas grandes cidades, como as que ocorreram no fim de abril e começo de maio no Rio Grande do Sul.

Com informação da Climatempo e Deutsche Welle.


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